sábado, 6 de dezembro de 2008

Produção Textual {2}


Por justa causa

 

 

 

Conversa ao telefone:(...)

            - Você já está meio encrencada, o chefe já viu a foto no jornal. – avisa a funcionária, colega de trabalho.

            - Mas que foto? Não sei do que está falando. – interroga a encrencada chefe de setor.

            - Onde você estava ontem? Você é uma executiva de alto nível, não poderia submeter-se a tanto. O que aconteceu com você?

            - Não entendo...

            - Preciso desligar, - interrompeu a funcionária, - o diretor geral está chegando. Até logo.

            E assim, encerraram a ligação.

            Com os pensamentos atordoados, a executiva tomou três xícaras de café enquanto seus pensamentos retomavam à indignação da funcionária e a preocupação de estar prestes a ser mandada embora.

            - Não é possível que alguém tenha visto. Tiraram fotos? Mas eu nem vi. Compliquei-me! – desesperou-se.

            A notícia se espalhou rapidamente por todo setor de serviço. À medida que chegavam à empresa, já se comentavam o ocorrido.

            - Quem diria hein. A executiva mais séria da empresa e da cidade, exemplo de competência, sujeita a fofocas deste nível? Essa não é merecedora do cargo. – comenta um outro funcionário, nada confiável.

            O que todos pensavam não tinha importância, mas o que o diretor geral achava de tudo, isso sim faria diferença, e ele não havia gostado nem um pouco.

            - Bom dia a todos! – chega ela, toda produzida com seu terninho preto que custou mais caro do que seu salário, com seus brincos e pulseira que brilhavam mais que seus olhos azuis, com sua bolsa importada da Europa modelo exclusivo, com seu “ar” de superioridade e sua alma envergonhada.

            Todos se entreolhavam e a olhavam com deboche, boquiabertos com a manchete do dia no Jornal da Cidade que dizia:

“EXECUTIVA FAMOSA DESCONTRALADA EM SHOW DE HEAVY METAL.”

            Sua identidade reservada havia sido desmembrada à todos. Seus gostos pessoais sempre foram criticados no seu meio e sua postura ética no trabalho a permitia ousar e extravasar, desde que ninguém soubesse.

             No dia anterior à manchete, umas das bandas ícones do Metal se apresentou na cidade e isso a afetou, já que era sua banda preferida desde a adolescência. A notícia estampava uma grande foto sua, vestida de preto, com uma camiseta desenhada com caveiras e seres demoníacos. Estava com uma feição de quem gritava muito, em uma das mãos fazia gestos que simbolizava o rock e na outra mão um cigarro que não conseguiram identificar de que tipo. Mas foi suficiente para render a matéria principal.

            Para uma executiva modelo de dignidade, a indignação de todos foi absoluta. A empresa agora estava no alvo das críticas e ameaçava os negócios. A manchete repercutiria por toda a cidade e região, e a fama da executiva não seria das melhores. Foram quinze anos de dedicação para alcançar a chefia e uma noite simplesmente para taxá-la de drogada e concluírem um possível desvio de dinheiro da empresa. Aquela noite foi decisivo para sua vida.

            O diretor geral a convida a entrar em sua sala e, sem rodeios, avisa:

            - Está demitida por justa causa.

            Ela levantou-se e saiu sem maiores explicações. 

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